No texto “Uma vida de exercícios: a antropotécnica de Peter Sloterdijk” escrito por Franz J. Brüseke e publicado na REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 26 N° 75 pg. 163-174, lemos que: Sloterdijk afirma que as prisões e outras instituições de vigilância repressiva não são o lugar central da produção do homem moderno, mas sim as escolas, as universidades, as oficinas e os ateliês artísticos. Aqui acontece uma verdadeira ortopedia humana formando com todos os meios da antropotécnica uma nova juventude. Os homens da modernidade adicionavam ao experimentalismo ascético da antiguidade o experimentalismo técnico e artístico e, mais tarde, a partir da Revolução Francesa, o experimentalismo político, que deveria encontrar no comunismo soviético e chinês seu apogeu. A vita activa, na modernidade emergente, deveria substituir gradativamente a vita contemplativa, inserindo como consequência do trabalho industrial o trabalhador no mundo. Este é resultado, como os outros que se exercitam, dos efeitos retroativos do seu próprio trabalho. Pois, o projeto da modernidade vai além. Surge com ele a “personalidade”, interessada na melhoria permanente da sua performance.
Contra argumento: Prisões e instituições de vigilância repressiva nada tem a ver com educação. Tem a ver com ressocialização daqueles que se comportam fora da regra normativa imposta pelo Estado, que é o instituto que rege as normas de pacificação e convivência harmônica na sociedade, ou seja, a Lei. Ao passo que a disciplina contesta o etnocentrismo existente ela também se comporta de forma etnocêntrica ao entender que somente a percepção do mundo, do ponto de vista sociológico, será capaz de formar o homem moderno. A concepção científica e filosófica para formulação de diagnósticos passa, antes de tudo, pela capacidade multicultural de aceitação ou não daquela concepção, sob pena de se impor uma cultura. Porém, essa mesma cultura possuidora de liberdade de existir em qualquer âmbito ou qualquer esfera do globo exerce seu poder de influência e difusão, sob pena de sucumbir em sua própria existência. Assim, se cria o novo conflito e, por sua vez, o conflito tem que ser pacificado pela renegada tese do senso comum, o qual é definido pela aceitação da opinião da maioria. Contudo esse aceitação do consenso dito pela maioria se torna novamente um fator etnocêntrico posto que teremos uma liberdade cultural suprimida em razão de uma normatização de conduta que a afasta por força da convenção democrática. A idéia de Peter Sloterdijk se mostra tão utópica quanto a utopia do comunismo Marxista e sua implementação. As experiências fracassadas na experiência Russa e do Leste Europeu provam que as boas idéias e contemporaneidade necessitam de um processo lento e gradual de experiência e maturidade adquiridas através do consenso da Filosofia do Direito e sua adequação à norma. A experiência Chinesa corrobora essa afirmação ao exibir um pós-moderno e bizarro modelo híbrido de consumo capitalista e governo totalitário comunista, onde se possui liberdade econômica para gerir a economia estatal comunista mas ao mesmo tempo há o cerceamento do pensamento e da liberdade de expressão sob força impositiva de um Estado soberano que vigia e cerceia a cultura em todos seus níveis. O advento contemporâneo da acessibilidade de informação permite ao homem moderno coexistir com sua realidade material e introspectiva ao mesmo tempo em que se correlaciona com a cultura global. O relativismo se direciona ao indivíduo enquanto ser único e soberano de seu EU avaliador. Por sua vez, o relativismo cultural se transmuta em um infinito cosmos de concepções e mesclas de todo conhecimento que se adquire e se distribui diariamente. O papel da escola nesse contexto é servir como facilitador na compreensão da diversidade existente e como se estruturar um raciocínio produtivo a partir do acesso à toda essa base de informação. Os dogmas e conceitos disciplinares estão em profunda mutação e transformação quase que diariamente. Somente uma educação centrada na difusão ampla e irrestrita da informação pode ser concebida como um formato de ensino não repressivo. A base civilizatória formada até os dias de hoje passará por um processo de reformulação de conceitos de aprendizado naturalmente, de acordo com o dia a dia do mundo e de seus avanços. Qualquer imposição visando aceleração do método de ensino ou de sua concepção elementar pode acarretar uma fragilização na cadeia estrutural do ensino e causar retrocesso no padrão educacional.