segunda-feira, 22 de março de 2021

Um novo julgamento para Sócrates

 FILOSOFIA ANTIGA

“Para Sócrates, uma pessoa é feliz apenas se ela é moralmente boa. Uma pessoa injusta ou má se sente miserável, mesmo quando escapa da punição de seus atos.”

REFLEXÃO E CONCLUSÃO SOBRE O TEMA PROPOSTO: Após pesquisa bibliográfica, estudos de textos e livros, observação de vídeos e material digital pesquisado em internet, concluí que a Filosofia Antiga trouxe um legado para a humanidade até então nunca presenciado. Esse legado formou uma base para que as futuras gerações ocidentais evoluíssem seu pensamento crítico e sua racionalidade. Isso foi um fator primordial para o ser humano existir na forma que existe nos dias de hoje pois, somente a própria reflexão conduz o ser individual, à sua própria verdade e o evolui em sua própria metafísica, refinando seu intelecto, seus conceitos e seus prazeres, livrando-se conscientemente do mundo das emoções rasas e dos sentimentos vulgares. Paixão, ódio, e outras manifestações de baixa consciência racional conduzem o intelecto à uma busca rasteira, resumida em domínio e sobrevivência baseada no exercício de dominância sobre o próximo, seja essa dominância pacífica e consensual ou forçada e opressora. Evoluir em sua própria metafísica é o destino do Homem. Conhece-te a ti mesmo é a verdade absoluta atribuída por Sócrates. Verdade essa que conduz a mente humana ao isolamento em sua própria energia vital e, consequentemente à liberdade de conviver em harmonia com todas as coisas, sendo o Todo e o Eu uma mesma existência mútua, universal e única. Ela é positiva e negativa, harmônica e caótica e coexiste no Todo e no EU, em uma só vibração. O alcance desse estado só se consegue através do refinamento do canal físico e metafísico do Homem. O único órgão do corpo humano capaz de permitir essa integração entre o físico e metafísico é o cérebro, que abriga a mente e os pensamentos, sendo essa porta que permite a passagem da existência medíocre para a existência plena, podendo-se ir e vir pela mesma porta, infinitamente.


CONTRAPOSIÇÃO ENTRE O TEMA PROPOSTO E OS CONFLITOS DOS DIAS ATUAIS: Os dias atuais ainda estão sugestionados pelas bases ensinadas pela Filosofia Antiga e a humanidade ainda engatinha quanto ao comportamento ético e moral  desejada, sob a ótica da Filosofia Antiga. A máxima de que tudo o que se pensou até hoje são “notas de rodapé da filosofia de Platão” merece guarida. Com efeito o Homem atravessou um período de trevas, iluminismo e renascimento, o qual concebeu notória evolução intelectual e científica nos últimos séculos. Todavia, estando hoje essa evolução em tempos que podem ser concebidos com a era da pós verdade, o Homem exerce o questionamento do questionamento de suas bases intelectuais, científicas e existenciais. Relativismo, Sincretismo e Etnocentrismo são modelos de insurgência contra tudo o que foi pensado até agora, mas tais práticas não são capazes de questionar ou confrontar as ideias primárias da ordem filosófica antiga. As bases dogmáticas e de crenças implantadas até hoje, a partir da adaptação de conceitos filosóficos antigos, para busca da coexistência pacífica de Homens e de regramento para o convívio em sociedade, passam por profunda crise de credibilidade. Os ordenamentos filosóficos que basearam a ética e a moral do Estado, da Lei e do Direito enfrentam uma crise profunda de confiabilidade porquanto os Homens dotados de sabedoria filosófica antiga despencaram em profunda mediocridade sofismática, afastando-se da sabedoria socrática. Cultura e educação manipulam costumes e bases educacionais reféns da vontade soberana do poder econômico e, assim, deixam de construir uma base filosófica producente aos jovens e crianças, que lhes assistam evolução racional para alcançar patamar desejável ao Homem de uma filosofia tal qual a definida por Sócrates. Esse estado de coisas se torna presente em gerações e mais gerações de seres humanos, que patinam nos dogmas e crenças placebos, propiciando um mórbido círculo vicioso em nosso convívio planetário, que se resume em uma eterna relação de ascensão econômica e poder, fanatismo e guerra. Mas o avanço dos tempos também criou uma mudança nos seres humanos quanto à aceitação submissa e racional desse estado de coisas. O poder do mito e da crença já não são mais suficientes para estancar manifestações e questionamentos frente ao próprio sistema que cria esses mitos e essas crenças. No momento em que a humanidade, através dos mesmos tipos de seres humanos que a habitam, desde a Grécia antiga, confrontam a figura do Olimpo e seus Deuses, explorando suas moradas com engenhocas espaciais. No momento em que aparelhos celulares desbancam a onipresença do Deus pai todo poderoso, colocando o pai e o filho mortais, em contato um com o outro, em qualquer lugar do planeta e até do cosmos. No momento em que a onisciência desse mesmo Deus Pai e dos oráculos é desbancada por uma plataforma Google, que a tudo ensina e responde, sem preconceitos, chantagem moral ou atributos dogmáticos tais como o mistério, pecado ou temor divinos. No momento em que medicamentos e aparelhos da ciência médica contrariam a vontade do espírito divino e fomentam a continuidade da vida humana, mostrando que esses aparatos é que ditam o  caminho a verdade e a vida do Homem, a humanidade entra em um colapso subconsciente de suas crenças e de sua fé. O desmonte da figura mitológica cristã e das outras (muçulmana, budista, etc.) veem seus dias contados em sua própria retórica fabulada em pecado e mistério frente a unificação e aproximação do mundo, através da informação compartilhada pela rede digital. As mentes ocidentais alienadas e deturpadas por séculos de manipulação filosófica direcionada entram em conflito com sua própria existência, no momento que percebem que sua fé no Cristo e demais figuras divinas são uma representação da sabedoria de Platão. Por isso, nestes tempos de pós verdade, toda verdade, encontrada e refletida, entre os períodos após a filosofia antiga, devem ser revistos. Somente a verdade original, consubstanciada nas reflexões dos antigos gregos e no compêndio ocidental trazido por Sócrates, Platão e Aristóteles permanecerão como condutor de uma nova visão filosófica em um mundo futuro. A ideia plantada de compaixão e fé, como se fez até hoje, conduz a mente racional à submissão dos dogmas e crenças, alienando-a. A sabedoria ostentada na alma e nas palavras só é arrogante, autossuficiente e dona de si, aos olhos dos tolos e preguiçosos, que por própria desídia se abstém do exercício do real viver, que se resume em viver em contemplação com a métrica universal, o belo que mantém a existência física e metafísica. Nunca como antes na História, o julgamento de Sócrates esteve tão perto de ser rediscutido. 

Até que os filósofos sejam reis, ou até que os reis e príncipes deste mundo tenham o espírito e o poder da filosofia, e até que a grandeza política e a sabedoria se encontrem, e até que a natureza dos plebeus que perseguem uma até a exclusão da outra seja forçada a se retirar, as cidades nunca se livrarão dos seus males... não, nem a raça humana, segundo creio. — Sócrates, República, 473c–d


2 comentários:

  1. Excelente e interessante texto Marco Serafim. Pelo que eu entendi o pensamento de Sócrates vai ao encontro da linha de pensamento em a que ciência e espiritualidade têm mais coisas afins do que exclusivas. Não fosse a idade média com seu obscurantismo sombrio, comprometendo a evolução da humanidade mais especificamente do homem ocidental, teríamos avançado muito mais no que se refere comportamento social. Espiritualismo que nada tem a ver com religião, mas como entendimento da própria vida. Encontrei no Hermetismo uma linha filosófica que trata o tema tendo como cerne a razão.

    ResponderExcluir
  2. Sim, observando-se que com relação à idade média o estudo de Rudolf Eucken demonstra que a filosofia cristã teve sua importância no processo de evolução do Homem, enquanto evolução no aprimoramente de seu pensamento, tirando-o do estado primitivo de ideias fazendo isso através de interpretação da filosofia como atributo de imposição de crenças e mitos, atribuídas ao naturalismo e o temor ante o metafísico, o que facilitou a imposição da razão livre. O que Eucken esclarece com muita propriedade é o fato de que a Escolástica Cristã "apropriou-se" de sua função transitória e quando se viu associada ao Poder olvidou-se de fazer a respectiva devolução desse continuísmo racional aos homens por intermédio da Educação. As primeiras escolas patrísticas e as faculdades sopesaram a viabilidade de se transferir conhecimento racional ao Homem, considerando isso temerário e uma ameaça ao Poder. Então dedicaram-se somente à transferência do conhecimento intelectual suficiente para que o Homem exercesse funções cognitivas atreladas à submissão a de ordem material, oportunizando o Mito e a Crença para distanciar a condição sublime do intelecto racional à perspectiva cósmica de que o "Eu" é falho e pecaminoso e que o "EU superior" é um alvo inatingível porquanto existimos nessa ordem material e que sua busca só será possível através da obediência às ordens e dogmas ditados pelo Estado e pela Igreja. Com o advento Feudal o poder econômico se instala e se alia ao poder a Igreja, ambos atuando em controle do Estado para aumentar o distorção cognitiva em relação à real filosofia implementando ideias e métodos racionais de escravização do pensamento e alienação do homem Poder e o Capital.

    ResponderExcluir